Naqueles tempos em que as boleadeiras, o laço e o facão valiam "mais que el diñero" e quem soubesse derrubar uma rês não passava fome, as atividades de pastoreio limitavam-se à captura e ao abate do gado sem dono pelas coxilhas rio-grandenses, se formou uma população de homens errantes e sem lei, integrada por índios evadidos das missões, desertores dos exércitos, contrabandistas, caçadores de couro, escravos fugidos, aventureiros e malfeitores de toda a espécie, conhecidos como faeneros, corambreros, changeadores.
Dessa mescla de gente é que surgiram os primeiros gaúchos, inicialmente conhecidos como guascas (tira de coro cru), por volta de 1770 passaram a ser denominados de gaudérios, para logo após serem conhecidos como gaúchos (muitos autores defendem que a
expressão gaúcho é de origem quêchua, da palavra Huagchu, donde derivou a denominação guacho, que significa órfão).
O termo gaúcho até meados do século XIX era depreciativo e aplicado aos mestiços de europeus com as índias guaranis e do tape missioneiro, como fica evidenciado no testemunho da época, feito por Saint Hilaire, que em seus apontamentos de 1820 registrou que"esses homens sem religião nem moral, na maioria índios ou mestiços que os portugueses designavam pelo nome de Garruchos ou Gahuchos".