Sabemos que Deus deu testemunho de si mesmo
através da sua Palavra – compilada ao longo dos séculos de história do povo de
Deus e encarnada por meio de Cristo. No entanto, há passagens bíblicas que
indicam que tudo que foi criado testifica a respeito de Deus, de sua lei e
graça para a salvação.
Sl 19.1-6:
os Céus proclamam glória de Deus
19.1 [Ao mestre de
canto. Salmo de Davi] Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento
anuncia as obras das suas mãos.
19.2 Um dia discursa
a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.
19.3 Não há
linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som;
19.4 no entanto, por
toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do
mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol,
19.5 o qual, como
noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu
caminho.
19.6 Principia numa
extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu
calor.
O trecho referido é um hino à glória de Deus, é
manifestada através da criação. O texto fala de um anúncio que pode ser ouvido
sem que haja nenhuma voz ou som, e sobre conhecimento que é revelado dessa
forma a todo o mundo habitado. Trata o sol, que era considerado uma divindade
por muitos povos, como sendo parte da criação de Deus, e também mostra Deus
zelando pela criação. A grandeza de toda criação, enfim, é colocada debaixo da
autoridade de Deus, e servindo os seus propósitos.
O pregador inglês Charles Spurgeon (1834-1892),
em sua obra The treasury of David (O tesouro de Davi), expõe sobre o referido
texto:
"Na
juventude, enquanto cuidava do rebanho de seu pai, o salmista
tinha-se dedicado ao estudo dos dois grandes livros de Deus: a natureza e as Escrituras.
E ele tinha-se aprofundado no espírito
destes dois únicos volumes de sua biblioteca a tal ponto que era capaz de compará-los e contrastá-los num estudo disciplinado, engrandecendo a excelência de
seu Autor quese vê em ambas as obras. (...) Sábio é aquele que lê
tanto o livro sem palavras como o livro da Palavra como dois volumes da mesma obra e conclui: 'Meu Pai escreveu
tanto este quanto aquele.'"
É interessante destacar a interpretação de um
mecanismo que Deus utiliza para transmitir conhecimento e sabedoria a todos os
seres humanos.
"Seria bom que
todo ser humano aprendesse a lição do dia e da noite. Ela deveria permear
nossos pensamentos diurnos e noturnos para nos fazer lembrar o fluxo do tempo,
o caráter passageiro das coisas
terrenas, a brevidade tanto da alegria como da tristeza, a
preciosidade da vida, nossa incapacidade total de recuperar as horas passadas e
a irresistível aproximação da eternidade. O dia nos remete ao trabalho, a
noite nos lembra os preparativos para
nossa morada final; o dia nos move a trabalhar para Deus, a noite nos convida a
descansar nele; o dia nos impele a buscar a luz eterna, e a noite nos
adverte a escapar das trevas eternas."
Ainda, podemos lembrar do texto de Sl 30.5b,
"ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã." e
relacioná-lo ao relato da manhã da ressurreição de Cristo.
Rm
1.19-20: atributos de Deus se reconhecem pelas coisas criadas;
1.19 porquanto o que
de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.
1.20 Porque os
atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,
indesculpáveis;
Em trecho que fala da indignidade do ser humano
e da sua depravação, o apóstolo Paulo indica que os gentios - aqueles que não
tiveram acesso ao ensino formal da Palavra de Deus, podemos dizer - não estão
totalmente desprovidos do conhecimento de Deus. Novamente a criação é
mencionada como sendo elemento que testifica a respeito de Deus e da sua
glória. A própria natureza, a consciência do ser humano e sua capacidade
intelectual apontam, primordialmente, para Deus.
Rm
2.14-15 a lei gravada no coração – até mesmo dos gentios
2.14 Quando, pois, os gentios, que não têm lei,
procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles
de lei para si mesmos.
2.15 Estes mostram a
norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e
os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, (...)
O apóstolo Paulo, novamente, reforça que a
manifestação de Deus se dá também no íntimo de cada ser humano, por meio da
consciência que cada um a respeito da conseqüência de suas atitudes e de sua
indignidade. Sabe-se que a queda em pecado turvou a compreensão de nossa
consciência pecadora, e que o pensamento contemporâneo parece promover o
aprofundamento da alienação por meio de da promoção de “marchas”, “dia do
orgulho” e outras formas de relativização do pecado. Sabemos quão nociva essa
cultura pode ser, visto que confessar-se pecador – como a nossa própria
consciência acusa - é atitude chave para o perdão e salvação pela graça de
Deus.
At 14.
15-17 não deixou ficar sem testemunho de si mesmo
14.15 Senhores, por
que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos
sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos
convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles;
14.16 o qual, nas
gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios
caminhos;
14.17 contudo, não se
deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas
e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.
O testemunho da natureza novamente é mencionado
por Paulo – na ocasião, junto a Barnabé – no que é tido como o primeiro
discurso ou pregação a um público nitidamente pagão, nos primeiros anos da era
cristã. Os pregadores, de maneira evangélica, criam empatia com os ouvintes, e
apresentam Deus como fonte de tudo que há de bom e agradável, citando bênçãos
facilmente identificáveis por qualquer pessoa. Em última análise, o bem que
Deus graciosamente reserva a todos por meio das coisas por Deus criadas,
indistintamente, servem para demonstrar o amor de Deus por todos.
CONCLUSÃO – Certamente, sabemos
que o testemunho de Deus não é completo longe das Escrituras. Também, que a
criação geme e espera, como todos nós, ser completamente redimida, conforme Rm
8.21-22. No entanto, é grande consolo saber que Deus, em sua onipotência,
onipresença e perfeita sabedoria, guarda na criação sinais de seus atributos e
de sua vontade para a humanidade.
Que Deus nos dê o seu Espírito e nos abençoe
para que percebamos o seu amor salvador através de tudo que foi criado. Que nos
sirva para testemunho, como portadores da boa nova de Cristo e da cruz,
cumprindo o propósito divino de “que todos os
homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4).
Elaborada por Paulo Roberto Langwinski,
para reflexão em reunião da Diretoria da Congregação Evangélica Luterana
Cristo, de Santa Maria (RS). Recursos: Bíblia de Estudo Almeida Revista e
Atualizada; “The treasury of David” (O tesouro de Davi), e sistema de pesquisa
on-line do site da SBB, ambos disponíveis na internet.
Santa Maria, 2 de julho de 2012.