2ª Parte – O Espírito de Julgamento.
O autor divide a culpa em dois grandes grupos: falsas e verdadeiras culpas. As falsas tem origem nos julgamentos que os homens fazem. As verdadeiras, no julgamento que Deus faz. Para diferenciá-la, o relato do episódio em que Jesus fica em Jerusalém sendo instruído por mestres da lei traz um ensinamento importante. Nesse relato, os pais de Jesus retornam aflitos para buscá-lo. Jesus, livre de culpas infantis, responde firmemente a seus pais conforme Lc 2.49. Jesus deveria estar lá, para cumprir o plano de Deus, e isso é algo muito mais sério e importante que alguma censura materna. Mesmo que Jesus seja o motivo da aflição de Maria, Ele não tem culpa disso.
Essas culpas falsas e verdadeiras ficam ainda mais claras quando verificamos os muitos episódios bíblicos que contém comportamento reprovável autorizado por Deus. Há episódios de homicídio, mentira, brigas, violência, vingança. A aprovação de Deus é o que torna uma ação aceitável ou não. Da mesma forma, uma sociedade culturalmente variada e o passar do tempo tornam o julgamento da sociedade algo extremamente volúvel. Não é possível considerar verdadeiras as culpas provocadas pela sugestão social. Assim, entendemos a repreensão de Jesus tanto a Maria, sua mãe (Mt 12.46-50), quanto a Pedro (Mt 16.22-23).
“O problema é que todos os homens pretendem, por seus julgamentos, exprimir o julgamento de Deus. É um fenômeno universal. Os homens fazem um monopólio de Deus, mesmo os que não crêem nele, mas especialmente os que querem servi-lo e conduzir homens a Ele. Quando eles julgam a conduta de alguém, todos o faze com um tom peremptório que significa implicitamente que Deus julgaria exatamente como eles. Estão sempre tão fortemente convencidos de seu parecer sobre o bem e o mal que tem a impressão que Deus mesmo se trairia se não partilhasse da opinião deles.”
Jesus disse para que não julgássemos. Normalmente, modificamos essa ordem de Jesus para “não julgueis injustamente”, como quem pretende corrigir a Deus, como se ele estivesse ordenando que nos submetêssemos à injustiça e ao mal. Não nos parece possível não julgar. Mesmo que o façamos com todo cuidado, zelo e boa intenção, facilmente pecamos ao julgar. A Bíblia, revelação divina para nossa salvação, contém a Lei, que muitas vezes parece “gritar” para nós, a fim de que apontemos os erros do mundo inteiro. Ou ainda, imaginamos que faremos um bem ao denunciar o mal, mesmo que não nos peçam para fazê-lo. A verdade é que os erros são reconhecidos pelas pessoas em meditação, recolhidas, ou em um bate-papo informal com alguém que não o julga. A atitude de humildade, de rendição ao outro é eficaz, muito diferente da atitude julgadora. Como Jó, que defendia-se das acusações dos amigos que pretendiam convencê-lo de suas culpas diante de Deus. Em sua defesa contra o que considerava injusto – as acusações – ele não conseguia ouvir a voz de Deus, nem se dava conta da sua obsessão em justificar-se e não em confiar no poder de Deus. Quando cessa o julgamento, conclui o autor, estamos mais próximos do arrependimento e da graça de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário