sexta-feira, 29 de junho de 2012

Deus se manifesta também pela criação?



Sabemos que Deus deu testemunho de si mesmo através da sua Palavra – compilada ao longo dos séculos de história do povo de Deus e encarnada por meio de Cristo. No entanto, há passagens bíblicas que indicam que tudo que foi criado testifica a respeito de Deus, de sua lei e graça para a salvação.

Sl 19.1-6: os Céus proclamam glória de Deus

19.1   [Ao mestre de canto. Salmo de Davi] Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.

19.2   Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.

19.3   Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som;

19.4   no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol,

19.5   o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho.

19.6   Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor.

O trecho referido é um hino à glória de Deus, é manifestada através da criação. O texto fala de um anúncio que pode ser ouvido sem que haja nenhuma voz ou som, e sobre conhecimento que é revelado dessa forma a todo o mundo habitado. Trata o sol, que era considerado uma divindade por muitos povos, como sendo parte da criação de Deus, e também mostra Deus zelando pela criação. A grandeza de toda criação, enfim, é colocada debaixo da autoridade de Deus, e servindo os seus propósitos.  

O pregador inglês Charles Spurgeon (1834-1892), em sua obra The treasury of David (O tesouro de Davi), expõe sobre o referido texto:

"Na juventude, enquanto cuidava do rebanho de seu pai, o salmista tinha-se dedicado ao estudo dos dois gran­des livros de Deus: a natureza e as Escrituras. E ele tinha-se aprofundado no espírito destes dois únicos volumes de sua biblio­teca a tal ponto que era capaz de compará-los e contrastá-los num estudo disciplinado, engrandecendo a excelência de seu Autor quese vê em ambas as obras. (...) Sábio é aquele que lê tanto o livro sem palavras como o livro da Palavra como dois volumes da mesma obra e conclui: 'Meu Pai escreveu tanto este quanto aquele.'"

É interessante destacar a interpretação de um mecanismo que Deus utiliza para transmitir conhecimento e sabedoria a todos os seres humanos.

"Seria bom que todo ser humano aprendesse a lição do dia e da noite. Ela deveria permear nossos pensamentos diurnos e noturnos para nos fazer lembrar o fluxo do tempo, o caráter passageiro das coisas terrenas, a brevidade tanto da alegria como da tristeza, a preciosidade da vida, nossa incapacidade total de recuperar as horas passadas e a irresistível aproximação da eter­nidade. O dia nos remete ao trabalho, a noite nos lembra os preparativos para nossa morada final; o dia nos move a trabalhar para Deus, a noite nos convida a descansar nele; o dia nos impe­le a buscar a luz eterna, e a noite nos adverte a escapar das trevas eternas."

Ainda, podemos lembrar do texto de Sl 30.5b, "ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã." e relacioná-lo ao relato da manhã da ressurreição de Cristo.

Rm 1.19-20: atributos de Deus se reconhecem pelas coisas criadas;

1.19   porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.

1.20   Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis;

Em trecho que fala da indignidade do ser humano e da sua depravação, o apóstolo Paulo indica que os gentios - aqueles que não tiveram acesso ao ensino formal da Palavra de Deus, podemos dizer - não estão totalmente desprovidos do conhecimento de Deus. Novamente a criação é mencionada como sendo elemento que testifica a respeito de Deus e da sua glória. A própria natureza, a consciência do ser humano e sua capacidade intelectual apontam, primordialmente, para Deus. 


Rm 2.14-15 a lei gravada no coração – até mesmo dos gentios

 2.14   Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.

2.15   Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, (...)

O apóstolo Paulo, novamente, reforça que a manifestação de Deus se dá também no íntimo de cada ser humano, por meio da consciência que cada um a respeito da conseqüência de suas atitudes e de sua indignidade. Sabe-se que a queda em pecado turvou a compreensão de nossa consciência pecadora, e que o pensamento contemporâneo parece promover o aprofundamento da alienação por meio de da promoção de “marchas”, “dia do orgulho” e outras formas de relativização do pecado. Sabemos quão nociva essa cultura pode ser, visto que confessar-se pecador – como a nossa própria consciência acusa - é atitude chave para o perdão e salvação pela graça de Deus.


At 14. 15-17 não deixou ficar sem testemunho de si mesmo

14.15   Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles;

14.16   o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos;

14.17   contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.

O testemunho da natureza novamente é mencionado por Paulo – na ocasião, junto a Barnabé – no que é tido como o primeiro discurso ou pregação a um público nitidamente pagão, nos primeiros anos da era cristã. Os pregadores, de maneira evangélica, criam empatia com os ouvintes, e apresentam Deus como fonte de tudo que há de bom e agradável, citando bênçãos facilmente identificáveis por qualquer pessoa. Em última análise, o bem que Deus graciosamente reserva a todos por meio das coisas por Deus criadas, indistintamente, servem para demonstrar o amor de Deus por todos.


CONCLUSÃO – Certamente, sabemos que o testemunho de Deus não é completo longe das Escrituras. Também, que a criação geme e espera, como todos nós, ser completamente redimida, conforme Rm 8.21-22. No entanto, é grande consolo saber que Deus, em sua onipotência, onipresença e perfeita sabedoria, guarda na criação sinais de seus atributos e de sua vontade para a humanidade.

Que Deus nos dê o seu Espírito e nos abençoe para que percebamos o seu amor salvador através de tudo que foi criado. Que nos sirva para testemunho, como portadores da boa nova de Cristo e da cruz, cumprindo o propósito divino de “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4).

Elaborada por Paulo Roberto Langwinski, para reflexão em reunião da Diretoria da Congregação Evangélica Luterana Cristo, de Santa Maria (RS). Recursos: Bíblia de Estudo Almeida Revista e Atualizada; “The treasury of David” (O tesouro de Davi), e sistema de pesquisa on-line do site da SBB, ambos disponíveis na internet.

Santa Maria, 2 de julho de 2012.